segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Jornal Nacional embarca com D. João VI


Há duzentos anos a corte portuguesa saía de Portugal rumo ao Brasil. O Jornal Nacional começou hoje a apresentar uma série para lembrar a aventura. Isso é uma prévia do que acontecerá o ano que vem no aniversário de 200 anos de Corte Lusa no Brasil. Assita a reportagem.

sábado, 24 de novembro de 2007

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Heróis da Liberdade!

Para Antonio, Chica, Zumbi, Mano, Manoel, Silas e Marçal.


A imagem é real!

Heróis da Liberdade (1969) ouça
(Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira)

Passava noite, vinha dia
O sangue do negro corria
Dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia o fim da tirania

Lá em Vila Rica
Junto ao Largo da Bica
Local da opressão
A fiel maçonaria, com sabedoria
Deu a sua decisão
Com flores e alegria
Veio a abolição
A independência laureando
O seu brasão

Ao longe soldados e tambores
Alunos e professores
Acompanhados de clarim
Cantavam assim

Já raiou a liberdade
A liberdade já raiou
Essa brisa que a juventude afaga
Essa chama
Que o ódio não apaga pelo universo
É a evolução em sua legítima razão

Samba, ó samba
Tem a sua primazia
Em gozar de felicidade
Samba, meu samba
Presta esta homenagem
Aos heróis da liberdade

Ô, ô, ô, ô
Liberdade senhor!



Leia sobre a canção no site

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Evoé! Musa República!

O poeta americano Walt Whitman (1819-1892) saúda a nascente República brasileira:
"A Christmas Greeting" (From a Northern Star-Group to a Southern. 1889-90)

WELCOME, Brazilian brother - thy ample place is ready;
A loving hand - a smile from the North - a sunny instant hail!
(Let the future care for itself, where it reveals its troubles, impedimentas,
Ours, ours, the present throe, the democratic aim, the acceptance and the faith;)
To thee today our reaching arm, our turning neck--to thee from us the expectant eye, Thou cluster free! thou brilliant lustrous one! thou, learning well
The true lesson of a nation's light in the sky,
(More shining than the Cross, more than the Crown,)
The height to be superb humanity.

***

" Saudação de Natal" (de um grupo de estrelas do norte para seus pares do sul. 1889-90)

BEM-VINDO, irmão brasileiro! Abriu-se teu amplo espaço,
Oferecemos a mão amiga, um sorriso vindo do Norte, uma saudação brilhante.
(Deixe o futuro falar por si, revelando suas dificuldades, sua bagagem,
É nossa, nossa a atual vibração, a busca da democracia, a aprovação e a fé)
A ti estendemos nossos braços, volvemos nossos pensamentos,
A ti dirigimos nosso olhar esperançoso,
Tu te unistes aos livres, Tu passastes a ter brilho próprio,
Tu aprendestes bem a verdadeira lição com as nações que brilham nos céus, (Brilham mais que a Cruz e a Coroa),
Vamos chegar ao topo de toda a humanidade.

(fonte)

***
With the Man (Paulo Leminsky)

aqui
no oeste
todo homem tem um preço
uma cabeça a prêmio
índio bom é índio morto
sem emprego
referência
ou endereço
tenho toda liberdade
pra traçar meu endereço

nasci
numa cidade pequena
cheia de buracos de balas
porres de uísque
grandes como o grand canion
tiroteios noturnos
entre pistoleiros brilhantes
como o ouro da califórnia
me segue uma estrela
no peito do xerife de denver

(in "Folhas das Folhas de Relva", Walt Whitman - Cantadas Literárias - tradução de Geir Campos e apresentação de Paulo Leminski.)


Walt Whitman é um poeta maior, patriota, homossexual, libertário, precursor dos beatnicks e dos hippies. Barbudo como um arbusto, evoca-me Edgar Allan Poe, Paulo Leminsky e outros do mesmo quilate. Na internet:
- Uma mulher espera por mim
- Comentário e alguns poemas.

domingo, 11 de novembro de 2007

Um rei que sabia demais!


Os shoppings das cidades do Brasil já contam com a presença de Papai Noel! O bom velhinho parece chegar mais cedo a cada ano. Ouvi o comentário de um deles – “É por causa do derretimento do Pólo Norte!”

Pois, não fosse a faixa presidencial e o matiz preto e branco envelhecido, muita gente poderia pensar que a foto da capa da Veja dessa semana é a do bom velhinho das renas. Mas trata-se do ex-imperador do Brasil, D. Pedro de Alcântara, mais conhecido como D. Pedro II.

Nosso segundo e último imperador, embora não esteja no panteão dos heróis da pátria, é um caso raro de conduta política digna marcada pela ética e pelo desprendimento. Além do mais, seu interesse pelas artes e ciências fez dele um personagem ímpar. Mais do que um “provável refúgio para a desolação emocional” – como nos escreveu a repórter da revista Veja – o interesse de D. Pedro II pela ciência foi compartilhado por muitos no séc. XIX.

As invenções, maravilhosas e assustadoras para a época, - como a locomotiva (1804), a fotografia (1835), o telégrafo (1835), o telefone (1860), o fonógrafo (1877) - e outras, realmente mudaram a maneira do ser humano se relacionar com o mundo. Afora isso, outros saltos intelectuais como a publicação da “Origem das Espécies”, por Charles Darwin em 1859, fizeram muitos acreditarem que a ciência chegava finalmente ao seu máximo! E que nada mais faltava pra ser inventado! Teorias como o positivismo de Augusto Comte (“Ordem e Progresso”) e a doutrina espírita de Allan Kardec estão intimamente ligados a essa maneira de ver o mundo.

Em 1876 os EUA comemoraram 100 anos de República e o imperador D. Pedro II foi até lá para participar das comemorações e visitar a Feira de Ciências da Filadélfia. Foi nessa feira que o imperador tornou-se uma das primeiras pessoas do mundo a falar ao telefone ("Meu Deus isso fala!") – gostou tanto que fez do Brasil o primeiro lugar a ter telefone fora dos EUA. Inclusive o próprio Alexandre Graham Bell agradeceu ao imperador com uma carta de próprio punho, considerando o interesse do monarca fundamental para despertar a atenção que o novo invento exigia.

Outra paixão foi a fotografia – que naquele momento se chamava ainda daguerreótipo. Ele comprava os aparelhos, importados e caros, e o presenteava talentos como Gilberto Ferrez, que se tornou o primeiro grande fotógrafo brasileiro. O próprio Pedro II foi fotógrafo amador e essas artes reais fizeram do Brasil um dos países com maior acervo de fotos do século XIX do mundo. O acervo de Ferrez está hoje no Instituto Moreira Sales e pode ser visitado online.

Também na música o rei foi um benemérito e exercia um mecenato que atingiu músicos amadores e corais de crianças negras ou brancas, tanto quanto o maior ídolo da música brasileira na época: Carlos Gomes, autor da conhecida ópera “O Guarani” – cuja protofonia toca até hoje no início do programa “Hora do Brasil” e é ainda familiar para muitos brasileiros. D. Pedro II também deu permissão para que Fred Figner – representante da Casa Edison no Brasil – vendesse o fonógrafo de Edison no Brasil. Com isso a família real tornou-se a primeira no país a deixar sons registrados no gravador da época e o país logo depois entrou na era das gravações que revolucionou a indústria cultural.

Pelo interessante apanhado de frases feitas pela reportagem da revista Veja podemos ter uma idéia geral das idéias de nosso ex-imperador.

Frases de D. Pedro II:

"Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da República ou ministro à de imperador", (1861)

"Jurei a Constituição; mas ainda que não a jurasse seria ela para mim uma segunda religião".

"A nossa principal necessidade política é a liberdade de eleição; sem esta e a de imprensa não há sistema constitucional na realidade, e o ministério que transgride ou consente na transgressão desse princípio é o maior inimigo do estado e da monarquia". (essa é para o Hugo Chaves!)

"Leio constantemente todos os periódicos da corte e das províncias. (...) A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca".

"Sem bastante educação popular não haverá eleições como todos, e sobretudo o imperador, primeiro representante da nação, e, por isso, primeiro interessado em que ela seja legitimamente representada, devemos querer" (em sua primeira viagem escreveu D. Pedro para sua filha a princesa Isabel).

"A escravidão é uma terrível maldição sobre qualquer nação, mas ela deve, e irá, desaparecer entre nós". (Escreveu isso em plena Guerra do Paraguai, sendo muito criticado pela precipitação).

"Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário". (Regra estabelecida nos Conselhos à Regente – ou seja, conselhos à Princesa Isabel).

"Se pudessem os brasileiros fariam os portugueses em postas".

"Que loucuras cometemos na cama de dois travesseiros!" (Para Ana de Villeneuve – uma de suas amantes ao longo da vida).

"Manuel Deodoro é meu amigo, tenho-o protegido e a toda a família" (Resposta costumeira de D. Pedro II quando o alertavam sobre a agitação dos militares).

"Pois, se tudo está perdido, haja calma. Eu não tenho medo do infortúnio" (No dia 15 de novembro de 1889, ao saber que estava deposto).

Frases atribuídas a ele:

"Eu sou republicano. Todos o sabem. Se fosse egoísta, proclamava a República para ter as glórias de Washington".

Frases de outros sobre D. Pedro II:

"Mercê do seu espírito contemporizador e da sua prodigiosa dissimulação, conservou, na mão de ferro enluvada em veludo, um poder sem contrapeso nem limite". (Rui não estava de todo errado em sua crítica, pois, como sabemos o poder Moderador, de uso exclusivo do imperador, somado ao poder Executivo fazia com que o imperador estivesse acima do Legislativo e do Judiciário. Pedro II conservou o principal instrumento centralizador criado por seu pai Pedro I. Como a reportagem é encomiástica ao Pedro II, foi preciso desfazer a imagem de Rui Barbosa chamando-o de ‘ministro ruinoso’ – por causa do Encilhamento).

"Não é por certo / Boa moral / Trair a esposa / Com a Barral" (Quadrinha popular sobre o caso de amor entre o imperador e Luísa Margarida Portugal de Barros, a condessa de Barral, uma das amantes de Pedro II).

"Era cauto, não casto" (Sobre seus diversos casos fora do casamento).

"Eis o sota escravocrata / Do reinado da patota / Deste reino patarata / Eis o sota escravocrata! / Na sua nádega chata / Fotografou-se o idiota" (O Facho da Civilização, jornal militante que aproveitou o Carnaval para fazer chacota com o imperador).

"Ondas de povo se haviam reunido para o verem passar. Apenas despontou em um coche, puxado por inúmeros braços, rebentou uma imensidade de vivas" (Padre Joaquim Pinto de Campos – sobre recepção a D. Pedro II, então com 5 anos de idade).

"Conheci muitos figurões, mas nunca vi um cujo tratamento igualasse o de dom Pedro em cortesia" (O autor de seu obituário no The New York Times).

"Seu velho palácio na cidade é uma barraca. Velho, podre, arruinado, maltratado, nunca pintado de novo" (Relato do jornalista alemão naturalizado brasileiro Karl von Koseritz).

"Eu queria acompanhar o caixão do imperador, que está velho e a quem eu respeito muito" (Marechal Deodoro da Fonseca, o ‘proclamador’ da República).


Em tempos de corrupção infame e de um fisiologismo assustador, Pedro II, justamente um imperador, bem que podia servir de inspiração aos futuros políticos e velhas raposas da nossa tão malfadada Nova República.

Pra quem quiser ir mais fundo:

As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz.
- D. Pedro II: Ser ou não ser, de José Murilo de Carvalho.
- Citizen Emperor, Roderick J. Barman - historiador britânico hoje baseado no Canadá.
- D. Pedro II e seu mundo através da caricatura, de Araken Távora.

sábado, 3 de novembro de 2007

Feliz Dia de São Crispim!



Ontem foi dia de todos os santos... porém o atraso não invalida a saudação... 25 de Outubro é dia de São Crispim! Dia da 'Batalha de Azincourt', a famosa batalha da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) na qual os ingleses com um exército mais de três vezes menor venceram os franceses de milhares de soldados lutando em casa. A cena do filme 'Henry V' (1989) de Kenneth Branagah é memorável. Mas, o que me levou até a cena foi uma pesquisinha sobre a música "Non Nobis" que eu me lembrava do filme mesmo: - "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam" (Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória). A frase guarda uma profunda sabedoria transcendental e já foi a divisa dos cavaleiros templários.

Parece que esse blog é especializado em cinema... mas é pura coincidência...

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O sonho da razão produz montros...

As relações ocultas que permeiam o cotidiano são intrigantes e reveladoras. De segunda para terça-feira sonhei com Adolf Hitler. Nunca antes eu havia sonhado com o “Fürher”. No sonho eu estava dando aula em Brusque –SC, em uma sala longa e estreita. Os alunos todos sentados e o general em pé com seu uniforme de guerra, olhando os mapas na parede. Para isso ele se debruçava por cima dos alunos e aquilo me incomodava. De cima do tablado, mesmo com medo eu imitava os passos marciais dos soldados nazistas e levantava o braço fazendo a conhecida saudação. Como era uma pantomima brincalhona obviamente que eu não estava à vontade, mas, Hitler, estático, continuava olhando os mapas... Até que repentinamente seus famosos olhos me encararam ameaçadoramente. A cena do sonho foi muito rápida e nítida! E apesar do sonho ser colorido, Hitler era preto e branco, como nas fotos que estamos acostumados. O sonho me incomodou tanto que acordei como em um pequeno choque.

Por que o sonho? Será pela matéria que vi no Fantástico, sobre a ação dos neonazistas de São Paulo? Por que Brusque? Será a colonização alemã? Conexões ocultas ou coincidência apenas o fato é que na noite de terça-feira o filme da Mostra Internacional de Cinema da TV Cultura me deixou mais ainda impressionado. Eu Fui a Secretária de Hitler. Um documentário feito por um relato cru de Frau Tradl Junge, secretária desde 1942 e participante dos últimos momentos do ditador.

Eu já tinha ouvido falar do filme na época de seu lançamento em 2002. Lembrava também ter ouvido falar da tal secretária a propósito do lançamento do filme "A Queda", uma ficção sobre os últimos dias de Hitler que ainda não assisti. Mas não tinha idéia da força de um depoimento. A força da 'História Oral'. Sem imagem e sem maquiagem. O filme mostra a importância dos relatos de contemporâneos para nos ajudar a pensar o mundo e as experiências humanas. Consegue nos prender a atenção, apesar de não haver outras imagens a não ser a octogenária Frau Tradl falando em seu apartamento.

O relato é impressionante e revelador da alma humana com todas as suas contradições. Relato triste e grotescos sobre pessoas que colocaram sonhos e ideais de conquista acima da ética com resultados desastrosos como todos sabem. Porém, Frau Tradl Junge deixa bem claro seu próprio veredicto a propósito de sua experiência única, na última cena do filme. Ela conta que quando foi finalmente libertada e anistiada em 1946, ao andar por uma rua de Berlim deparou-se com uma estátua em homenagem a uma jovem que fora assassinada por se recusar a participar da juventude nazista. Coincidentemente a jovem foi morta no mesmo dia em que Frau Tradl aceitou trabalhar para Hitler. E ela termina dizendo: - O fato de eu ser jovem não me exime da culpa de ter aceitado fazer o que fiz...

Desde o fim do século XVIII, o século das Luzes! O pintor espanhol Francisco Goya já alertava “O sonho da razão produz monstros”. Esses monstros ainda circulam entre nós.

Frau Tradl Junge morreu algumas horas depois do filme ter feito sua estréia nos cinemas de Berlim em 2002.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Um filme falado


Na noite dessa última terça-feira eu tive muita sorte. Já estava quase indo dormir quando parei pra ver qual seria o filme da TV Cultura na Mostra Internacional de Cinema. Quando o apresentador, Leon Kakoff, começou a falar achei até graça! Como pode existir um filme assim e eu nem suspeitar de sua existência?

Todos os professores de História deveriam assistir... E passar para seus alunos! O filme é uma viagem! Literalmente. Literariamente. Um cruzeiro pela bacia do Mediterrâneo e suas incríveis civilizações que colonizaram o mundo do Ocidente e do Oriente. Atrás da aparente simplicidade das conversas entre mãe e filha, e depois, na mesa redonda e poliglótica que se instalou no navio sob o comandante Malkovich, existe uma profunda reflexão sobre a Europa colonizadora e decadente e a condição humana atual.

E ainda de brinde, a beleza de Catherine Deneuve, que já deve ter passado dos sessenta anos! (Numa rápida pesquisa descubro que ela fez aniversário ontem!) O mistério da fala e da voz de Irene Papas (cantora grega que um dia teve um animado papo com Vinícius de Moraes...) e a bela jovem professora de História da Universidade de Lisboa além de outra bela ragazza na mesa do papo.

O filme foi feito em 2001 e lançado em 2003 pelo consagrado diretor português Manuel de Oliveira, na época com apenas 94 anos! Aliás, nesse ano de 2007 esse jovem faz 100 anos! Minha pátria é minha língua! Porém não há civilização que não afunde... somente a história sobrevive...

Confira mais fotos e sinopses e otras cositas más no site oficial do filme.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

"Vai pra lá que eu vou pra cá"... um drible que valeu por cinco gols!

"É como se o corpo recebesse uma luz repentina inexplicável..."

Robinho foi essa semana a encarnação dessa frase de Chico Buarque. Em uma partida com Maracanã lotado e 5 gols marcados, o lance mais visto e comentado foi justamente um drible!
Foi como se a torcida dissesse:
- Gol a gente vê toda hora!... Mas, drible como aquele...

Jogada inédita que já nasceu lembrando música! Inicialmente o Robinho chamou a jogada de "Um pra lá, dois pra cá!" muito bom! Pois foi o jogador adversário (um) pra lá e a bola e o dono da bola (dois) pra cá! Na Globo o Galvão Bueno lembrou-se no ato de um grande sucesso de João Bosco e Aldir Blanc na voz de Elis Regina, "Dois pra lá, dois pra cá" (1975). Ele citou até o nome dos compositores! É pra ver como essa canção foi marcante nos anos 70. E o Robinho pedalando em frente àquele João bem que poderia ter começado a cantar como a Elis:
- "Sentindo frio em minha alma... te convidei pra dançar..." e o marcador dançou...

Mas não foi só essa música que dançou na memória. Aliás, a mesma "luz repentina inexplicável" foi recebida por Chico quando criou uma linha de ataque imaginária e mitológica na canção "O Futebol" (1989) - que também traz uma expressão evocada na noite da consagração do drible do Robinho na linha do Equador: "Parafusar algum João"...

"O Futebol" (1989) - Chico Buarque

Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané
Mané para Didi para Mané para Didi
para Pagão para Pelé e Canhoteiro)


A expressão: - “Parafusar João”, nasceu das jogadas mitológicas do anjo das pernas tortas, Mané Garrincha, que com seus garranchos "parafusava" qualquer João que o marcasse. O marcador de Mané era sempre um “João” qualquer que ficava lá, parafusado no campo, sem qualquer reação, enquanto o anjo recebia a “luz repentina inexplicável” e passava voando com a bola levada por suas pernas tortas...

Em entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, de onde a epígrafe desse post foi extraída, Chico constata que a música e o futebol permitem atos de criação instantâneos, que fascinam e encantam.
A ídéia do criador ginga quando cria...
E a nossa fica lá, parafusada, gingando no lance do criador...
recebendo aquela luz repentina e inexplicável...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007


Eu tinha 5 anos na Copa de 1970. Mesmo assim lembro-me do clima de festa. Minha mãe, grávida de meu segundo irmão, querendo arrumar logo a casa porque meu pai chegaria mais cedo do trabalho. Afinal o Brasil ia jogar na televisão e isso era uma coisa especial.

Aliás, o filme será muito mais especial para essa geração da qual faço parte - que tinha de uns 5 a uns 15 anos nesses tempos do “Milagre Brasileiro”. A passagem do tempo é impressionante, experiência pessoal e única. Aos poucos vamos assistindo nossas lembranças pessoais de infância se transforarem em parte da memória coletiva do Brasil contemporâneo. O interior do fusca, a tv preto e branco, a antena com Bom-Bril, o Sugismundo, o álbum de figurinhas, o jogo de botão, o golaço, Pelé, Tostão, Aero Willis, DKW e ditadura. Tudo está presente nas cenas do filme e em nossas lembranças.

O cuidado com os detalhes cenográficos, a atuação das crianças, o roteiro impecável, tudo no filme impressiona. Além de uma leveza e sensibilidade original, pois, apesar do tema pesado, o filme se recusa à provocação do choro fácil ou a mais uma cena de tortura, tão comum em filmes sobre essa época.

A copa de 70 foi a primeira que o Brasil assistiu pela televisão e isso teve um impacto memorável. A música "Pra Frente Brasil" de Miguel Gustavo é até hoje lembrada e cantada por muitos. O coro de assobios da gravação original foi uma solução genial e inconfundível - além de ser bem difícil de imitar... Depois dessa música sempre lembramos a população do Brasil em 1970: 90 milhões. Hoje somos o dobro de pessoas em ação, mas ninguém atualiza esse número quando canta, a exemplo do Jota Quest que num lance de oportunismo gravou a música para a Copa de 2006.

"Pra frente Brasil" (1970) - Miguel Gustavo

Noventa milhões em ação,
Pra frente Brasil... do meu coração
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Salve a Seleção!
De repente é aquela corrente pra frente,
Parece que todo o Brasil deu a mão...
Todos ligados na mesma emoção...
Tudo é um só coração!

Todos juntos vamos pra frente Brasil, Brasil!
Salve a Seleção !!! (bis)


Os filmes nos ajudam a pensar nossa experiência de mundo. Excitam nossa memória e imaginação. A ‘Copa de 70’ já tem mais uma referência obrigatória de arte e memória. E como na canção que comemora... Não me furto à vontade de terminar cantando o finalzinho do “Parabéns pra você”, com a empolgação de um menino: - Rá-tim-bum! Cao Hamburger, Cao Hamburger!

Ah! O filme foi escolhido para representar o Brasil na luta por uma vaga para o Oscar 2008. Houve quem preferisse o polêmico 'Tropa de Elite', mas a Academia de Hollywood não gosta de violência e talvez tenha uma simpatia especial pelos velhinhos do Brooklim paulistano! Shalom!

O ano em que meus pais saíram de férias

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

PEIDEI mas não fui eu...


O tempo do lobo bobo já era!
João Luís Woerdenbag Filho, vulgo Lobão, deu essa semana uma aula de marketing pessoal. De camiseta preta com a frase branca "PEIDEI, mas não fui eu", foi à TV Senado, a uma rádio – do exército! - em Brasília e ao Programa do Jô. À primeira vista a camiseta incomoda como um pum. Quando ele explica que é por causa do contexto político atual, a camiseta preta ganha um status menos bunda e fica mais cabeça. Segundo ele, o choque é muito maior do que o batido "nariz de palhaço", ou o carola "dignidade já!", ou o brochante "cansei".

Assisti à entrevista no Jô (25/09/2007) e claro que só se falou da tal camiseta e do momento político que estamos vivendo. Aliás, com essa conotação política, a camiseta seria oportuna em quase todos os momentos da história do Brasil. Lobão disse ainda que o PEIDEI é o embrião de um partido político, o PMNFE(Peidei, mas não fui eu), e que no próximo carnaval vai ter o bloco do PEIDEI. Segundo ele, só mesmo com muita galhofa podemos enfrentar os disparates da política nacional.

Então ele deu asas à sua imaginação galhofeira! Pegou a melodia de "O que será" de Chico Buarque e compôs um imbróglio nervoso, que ele disse impressionar pela prosódia... Depois fez um convite público ao Chico, ao Milton e ao Caetano para gravarem com ele! Os quatro cantando juntos! Isso logo depois de ter dito que a 'esquerda musical' (sic!) desse país estava meio calada...

Ah! Ele também está lançando o seu Acústico MTV - hahá! Depois de muito brigar com gravadoras e tentar soluções inovadoras como vender cd em banca de jornal; depois de se tornar um dos caras que mais entendem de custo e distribuição de cds no Brasil; Lobão volta para as 'velhas' mídias que lhe possibilitam uma visibilidade muito maior. Visibilidade essa que ele consegue ampliar... como quem solta um pum... discreto, mas causando muito barulho logo em seguida.

"Ó quem será que peidar" (2007)
(paródia de Lobão)

Ó, quem será que peidar
que tire o cu da reta e não demore
com a mão amarela, se inocente
que sem prova concreta não dá pra pegar
e todos os trambiques irão te salvar
com todos os auxílios da presidência
e todo benefício da leniência
de todos os decretos que te aliviam
pois quem não tem vergonha quando chafurda
não entende o desespero de coisa alguma
pois quem não tem decoro, nem nunca terá
porque não dá castigo.

Ó quem será que peidar
que apague a luz dos aeroportos
pra debaixo do tapete todos os mortos
e vem gente me pedindo: relaxa e goza
colhendo os impostos para a mesada
na eterna incompetência do governante
impondo com orgulho a falcatrua
a dança do larápio que ganha a rua
enquanto que a gente a se perguntar
aonde é que a gente então vai parar
e se não tem remédio, pra que implorar
a quem não dá ouvido

Ó quem será que peidar
desfaça o flagrante dos mensaleiros
e faça um desagravo pros brasileiros
é só um feriado que a gente esquece
se benza duas vezes com a mão na massa
com a cara de enlevo ninguém vai notar
triplique o dinheiro pra olimpíada
com a cara de tacho que te consagra
no próximo vexame ninguém vai lembrar
não há merecimento nem nunca haverá
por que ninguém exige nem exigirá
tua cabeça a prêmio.

 


Ele cantando até que fica melhor do que lido... mas assim como a camiseta... só impressiona a primeira vez. Além do que a métrica é toda torta... putz! É a tal estética ‘rock’n roll’...

Porém, gostei da entrevista e gostei da camiseta. A MTV também deve ter adorado!
O Chico Buarque é que não deve ter gostado muito de ter sido chamado de 'esquerda musical'...

No neoliberalismo global mundializado até indignação vira marketing.
Nessa vida bandida, meus heróis morreram de overdose, na velocidade da queda...

Click e Compre a Camiseta!

E logo depois já rolava no youtube...