quarta-feira, 23 de abril de 2008

São Jorge, Pixinguinha e mais um livro...

Ontem foi também uma data histórica: 22 de Abril! Sempre lembro. Dia em que, segundo a Carta de Pero Vaz, vieram à terra pela primeira vez, os grumetes e marinheiros de caravelas e naus que seguiam pras Índias com o capitão Cabral. Não há como esquecer a marchinha de Lamartine:

"Quem foi que inventou o Brasil
Foi seu Cabral
Foi seu Cabral
No dia 21 de Abril
Dois meses depois do carnaval!"
Mas hoje já é dia de São Jorge, o Ogum dos orixás! E aproveito pra lembrar a melhor oração de proteção de nosso repertório, de outro Jorge não menos guerreiro:
"Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz
porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge
Para que meus inimigos
tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos
tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo um pensamento
eles possam ter para me fazerem mal

Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Espadas, facas e lanças se quebrem,
sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem,
sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge"

São Jorge foi soldado em plena decadência do Império Romano. O imperador Diocleciano - o mesmo que fez o Édito Máximo pra tentar conter o dragão da inflação que assolava Roma -, também perseguiu os cristãos para o bem da cristandade. São Jorge morre como mártir em seu governo. Mas o monstro da inflação, que seria a ruína de Roma, o imperador não derrotou. Já o césar seguinte, Constantino, fez o Édito de Milão, que permitiu a liberdade de culto aos cristãos, legitimando a fase: "se não pode com eles, junte-se a eles". Lembro-me de um açougue na infância - com todas aquelas carnes sanguíneas penduradas nos ganchos - e o São Jorge cristão lá no alto, logo acima da porta do frigorífico, imenso em seu cavalo branco de louça, sempre lancetando o dragão. Foi minha primeira visão de São Jorge. Não seria de estranhar se as crianças pensassem que ali também se vendia carne de dragão...

Mas hoje também é aniversário de Pixinguinha!


Santo de nossos melhores choros, filho de Ogum e bexiguento. Nascido Alfredo da Rocha Vianna, foi logo chamado de Pizindim pela língua africana da avó. Isso somado às terríveis marcas deixadas pela varíola, dita bexiga na época, e temos esse hibridismo sem igual: Pixinguinha! Para um músico também inigualável. E quem duvida que conhece suas músicas fale pra vovó cantarolar o Carinhoso, ou então, reconheça que conhece muitos dos seus chorinhos pelas trilhas de época da tv. Sua música poderosa marcou nosso século XX e firmou o conceito de música brasileira, entre nós e no exterior.

E ainda ontem garimpando as estantes dos livreiros, achei uma gema que se encaixa como luva em nossa pauta:


Com uma ótima introdução de nossa mestra Mary Del Priore.
E com o preço menor lá na fnac.
Não confunda literatura e história, mas também não dispense uma pra melhor saborear a outra. E por último, num arroubo quixotesco, arrisco uma metáfora de cena: o estilo é a lança, o cavalo é quem lê, o escritor é o santo e o tema o dragão. Pra trilha sonora o "Um a zero" de Pixinguinha. Salve Jorge!