sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sexo, Orégano e 1968

Ah! Que preguiça de falar ainda mais de 1968... Mas pra não perder a data do post que farei depois nesta data fica então posto. Forever green Luísa...

terça-feira, 13 de maio de 2008

- Bebel, a Redentora!


Todo o 13 de Maio é assim! Os professores de História lembram-se da famosa "Lei Áurea", que hoje está de aniversário. Afinal são 120 anos! E parece que foi ontem...

Como é sabido por todos essa lei aboliu a escravidão no Brasil, porém ela sequer cita a palavra "escravo"!
Tida como retrógrada a lei já foi bastante criticada - e com razão -, por diversas correntes de nossa historiografia. Vamos às críticas mais correntes:

- O Brasil foi o último país da América, e um dos últimos do mundo a abolir a escravidão. Só por isso já seria difícil defender a posição da Monarquia, que garantiu para os latifundiários que ainda careciam, o barato e já nem tão farto, porém exausto braço e mãos-de-obra escrava. Negra herança colonial.

- A lei também não teve o cuidado de determinar o que aconteceria com os ex-escravos depois de libertos. Então seguiu-se duas situações: 1. No campo pouco mudou e o ex-escravo passou a uma condição semi-servil. Trabalhando por comida e moradia e podendo ser dispensado e maltratado como sempre. E sem recurso a revoltar-se, pois, agora era livre, oras! Tá reclamando o quê? Não quer vai embora!
2. Se estivesse em área urbana o ex-escravo não teria como competir com a então farta mão-de-obra imigrante assalariada. Essa era mais produtiva e branca, em tempos de preocupação oficial com o embranquecimento do Brasil, ser branco era a melhor parte do currículo... O ex-escravo urbano foi então relegado à sombra social, ao gueto, à margem. Esse marginal agora pelo menos poderia preferir a sua condição de trabalho temporário pra ganhar quase nada. E viver de soprar a fumaça de seu bongô* nas escadas do cais do porto nos muitos dias sem trabalho. Ao invés de arrumar um emprego que o prendesse pra sempre, pra sempre ganhar a mesma miséria de sempre... E muita gente então dizia: - É! Esses negros definitivamente não gostam de trabalhar! Pois agora estão livres e nem procuram trabalho! Nem se esforçam pra melhorar... Tão pensando o quê?

- Os brancos coroados eram nosso imperador D. Pedro II e sua filha a Princesa Isabel, declaradamente abolicionistas. Em um país racista como o nosso, o fato de uma branca ter sido a responsável pela assinatura que libertou os negros... Ah! Não sei não, mas é claro que isso deveria ser lembrado para denegrir a lei... Afinal qual outras leis foram feitas por negros nesse país? E por aí vão às críticas ao tal 13 de maio, umas legítimas, outras nem tanto, porém:

- Em 1995 comemorou-se 300 anos da resistência de Zumbi dos Palmares no nosso mais conhecido quilombo de outrora. Nesse ano adotaram o dia 20 de novembro como o "Dia da Consciência Negra". Lembro-me de algum falatório em torno da data, como sendo também uma alternativa ao tão criticado 13 de maio oficial.

O fato é que de uns anos para cá nossa historiografia tenta reabilitar a data de hoje como um momento importante na construção de nossa cidadania. Como um avanço sócio-político. Sim! Ainda que atrasado e complexado.

Pra terminar vamos comemorar esse 13, lembrando aqui um samba-enredo da melhor qualidade, que muito mais gente deveria conhecer... Tão malandro em seu eruditismo pernóstico quanto brilhante em sua resolução final. E eu tive o prazer de conhecer o tal sambinha ainda recém nascido. Lembro de meu compadre Wella num bar, todo empolgado, contando como ele mais o amigo Paulinho Carvalho fizeram o samba: - Num estalo! Primeiro veio o nome gigante - quem sabe uma lembrança das decorebas exigidas pelos profs de história do passado. E depois a segunda parte: totalmente pícara! E eu ali em pé, ouvindo no meio da zoeira de vozes e gravando de imediato, pra depois ir cantando pra casa, a melhor homenagem à princesa Dona Isabé que eu conheço. Sempre escuto a percussão... Pesada! E no cavaquinho... Nervoso!
Mas aqui por enquanto vai só a letra mesmo:



"Isabel Cristina"
(Wella-Paulinho Carvalho)(2001)

Isabel Cristina
Leopoldina
Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança
falar teu nome todo cansa!
E como cansa... E como cansa...
E eu cansei!

Cansei de ser escravo
Bateu as asas a liberdade no céu
E hoje, tenho direito à preguiça
Só vô chamar Vossa Alteza de Bebel!


De Bebel!




"Viva aquele que se presta a esta ocupação! Salve o compositor popular!"

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quem trabalha é que tem razão?

Discurso de Gegê no melhor estilo 'pai dos pobres'. Impressionante como essa entonação sacralizada soava verossímel na época. Repare nos sorrisos dos 'papagaios de piratas' quando Gegê inicia com seu famoso bordão: - Trabalhadores do Brasil!
Esse vídeo é de 1951. Vargas não era mais um ditador apesar de ter conservado a prática populista. O estádio estava cheio. A multidão em delírio como se fosse assistir a um show de prêmios. Vargas cercado por milhares de correligionários. Dali a três anos esse homem daria um tiro no coração...



O feriado de Primeiro de Maio foi instituído por Arthur Bernardes em 1925, mas foi Vargas quem inventou comemorar junto com o povo a partir de 1939. A data festiva era programada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e usada para promover a figura do ditador, que sempre anunciava novas leis trabalhistas. Logo após, um jogo de futebol fazia o povo se sentir muito bem tratado e protegido por seu presidente sorridente.

Hoje o PIB é bem maior, a distância entre ricos e pobres maior ainda e as estrelas não são mais os políticos. A política não é mais sacralizada. Esse ano, o 'Show de Primeiro de Maio' em São Paulo atraiu 40 mil pessoas para assistir 40 atrações artísticas... Algum político atreveu-se a dar a cara? Alguma liderança sindical propôs um pouco mais de justiça?

Atualmente nossas centrais sindicais estão muito parecidas com esses senhores das arquibancadas:



Mas o melhor mesmo é ser feriado prolongado e sobrar tempo até para posts.

Em 1941 Ataulfo Alves e Wilson Batista cooptavam - pressionados ou não - com o Estado Novo. E firmavam a figura do trabalhador ordeiro e responsável:

"Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar..."

(Bonde São Januário)


Quarenta anos depois Chico Buarque opera suas palavras para uma homenagem às greves do ABC de 1978:

"Linha, linha de montagem
A cor a coragem cora, coração
Abc, abecedário, oper operário
Pé no pé no chão
(...)
As cabeças levantadas
Máquinas paradas
Dia de pescar
Pois quem toca o trem pra frente
Também de repente
Pode o trem parar(...)”
(Linha de Montagem - Chico e Novelli)


Essa canção ia ser apresentada ao público por Chico Buarque, pela primeira vez, a 20 de abril e depois a 27 de abril de 1980, no Show de Vila Euclides - espetáculo musical cuja renda seria encaminhada ao Fundo de Greve dos Metalúrgicos. No entanto, o show - que iria ter lugar em São Bernardo, no Estádio de Vila Euclides, foi proibido, duas vezes, pela Polícia Federal e pelo DEOPS de São Paulo, apesar de terem sido vendidos mais de 100.000 mil ingressos. (Adélia Bezerra de Meneses em Desenho Mágico, HUCITEC, 1982)


Em tempos mais sombrios - Show do Riocentro em Primeiro de Maio de 1981 - uma bomba explodiu no estacionamento, enquanto Alceu Valença cantava seu "Coração Bobo". A direita manifestava-se contra a anunciada abertura da forma mais violenta. Mas só sairam feridos os que haviam tentado ferir.

E pra terminar quem conhece a rara e esquecida parceria entre Chico Buarque e Milton Nascimento? Do outro lado do compacto simples a famosa "Cio da Terra". Mas Primeiro de Maio é hoje!

"Primeiro de maio" (1977)

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é o seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã

Trinta anos depois da canção muitos operários dormem nas ruas. Não há mais greves. Nem homens de amanhã. Só a arte nos redime.