Os shoppings das cidades do Brasil já contam com a presença de Papai Noel! O bom velhinho parece chegar mais cedo a cada ano. Ouvi o comentário de um deles – “É por causa do derretimento do Pólo Norte!”
Pois, não fosse a faixa presidencial e o matiz preto e branco envelhecido, muita gente poderia pensar que a foto da capa da Veja dessa semana é a do bom velhinho das renas. Mas trata-se do ex-imperador do Brasil, D. Pedro de Alcântara, mais conhecido como D. Pedro II.
Nosso segundo e último imperador, embora não esteja no panteão dos heróis da pátria, é um caso raro de conduta política digna marcada pela ética e pelo desprendimento. Além do mais, seu interesse pelas artes e ciências fez dele um personagem ímpar. Mais do que um “provável refúgio para a desolação emocional” – como nos escreveu a repórter da revista Veja – o interesse de D. Pedro II pela ciência foi compartilhado por muitos no séc. XIX.
As invenções, maravilhosas e assustadoras para a época, - como a locomotiva (1804), a fotografia (1835), o telégrafo (1835), o telefone (1860), o fonógrafo (1877) - e outras, realmente mudaram a maneira do ser humano se relacionar com o mundo. Afora isso, outros saltos intelectuais como a publicação da “Origem das Espécies”, por Charles Darwin em 1859, fizeram muitos acreditarem que a ciência chegava finalmente ao seu máximo! E que nada mais faltava pra ser inventado! Teorias como o positivismo de Augusto Comte (“Ordem e Progresso”) e a doutrina espírita de Allan Kardec estão intimamente ligados a essa maneira de ver o mundo.
Em 1876 os EUA comemoraram 100 anos de República e o imperador D. Pedro II foi até lá para participar das comemorações e visitar a Feira de Ciências da Filadélfia. Foi nessa feira que o imperador tornou-se uma das primeiras pessoas do mundo a falar ao telefone ("Meu Deus isso fala!") – gostou tanto que fez do Brasil o primeiro lugar a ter telefone fora dos EUA. Inclusive o próprio Alexandre Graham Bell agradeceu ao imperador com uma carta de próprio punho, considerando o interesse do monarca fundamental para despertar a atenção que o novo invento exigia.
Outra paixão foi a fotografia – que naquele momento se chamava ainda daguerreótipo. Ele comprava os aparelhos, importados e caros, e o presenteava talentos como Gilberto Ferrez, que se tornou o primeiro grande fotógrafo brasileiro. O próprio Pedro II foi fotógrafo amador e essas artes reais fizeram do Brasil um dos países com maior acervo de fotos do século XIX do mundo. O acervo de Ferrez está hoje no Instituto Moreira Sales e pode ser visitado online.
Também na música o rei foi um benemérito e exercia um mecenato que atingiu músicos amadores e corais de crianças negras ou brancas, tanto quanto o maior ídolo da música brasileira na época: Carlos Gomes, autor da conhecida ópera “O Guarani” – cuja protofonia toca até hoje no início do programa “Hora do Brasil” e é ainda familiar para muitos brasileiros. D. Pedro II também deu permissão para que Fred Figner – representante da Casa Edison no Brasil – vendesse o fonógrafo de Edison no Brasil. Com isso a família real tornou-se a primeira no país a deixar sons registrados no gravador da época e o país logo depois entrou na era das gravações que revolucionou a indústria cultural.
Pelo interessante apanhado de frases feitas pela reportagem da revista Veja podemos ter uma idéia geral das idéias de nosso ex-imperador.
Frases de D. Pedro II: |
Em tempos de corrupção infame e de um fisiologismo assustador, Pedro II, justamente um imperador, bem que podia servir de inspiração aos futuros políticos e velhas raposas da nossa tão malfadada Nova República.
Pra quem quiser ir mais fundo:
– As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz.
- D. Pedro II: Ser ou não ser, de José Murilo de Carvalho.
- Citizen Emperor, Roderick J. Barman - historiador britânico hoje baseado no Canadá.
- D. Pedro II e seu mundo através da caricatura, de Araken Távora.
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