terça-feira, 13 de maio de 2008

- Bebel, a Redentora!


Todo o 13 de Maio é assim! Os professores de História lembram-se da famosa "Lei Áurea", que hoje está de aniversário. Afinal são 120 anos! E parece que foi ontem...

Como é sabido por todos essa lei aboliu a escravidão no Brasil, porém ela sequer cita a palavra "escravo"!
Tida como retrógrada a lei já foi bastante criticada - e com razão -, por diversas correntes de nossa historiografia. Vamos às críticas mais correntes:

- O Brasil foi o último país da América, e um dos últimos do mundo a abolir a escravidão. Só por isso já seria difícil defender a posição da Monarquia, que garantiu para os latifundiários que ainda careciam, o barato e já nem tão farto, porém exausto braço e mãos-de-obra escrava. Negra herança colonial.

- A lei também não teve o cuidado de determinar o que aconteceria com os ex-escravos depois de libertos. Então seguiu-se duas situações: 1. No campo pouco mudou e o ex-escravo passou a uma condição semi-servil. Trabalhando por comida e moradia e podendo ser dispensado e maltratado como sempre. E sem recurso a revoltar-se, pois, agora era livre, oras! Tá reclamando o quê? Não quer vai embora!
2. Se estivesse em área urbana o ex-escravo não teria como competir com a então farta mão-de-obra imigrante assalariada. Essa era mais produtiva e branca, em tempos de preocupação oficial com o embranquecimento do Brasil, ser branco era a melhor parte do currículo... O ex-escravo urbano foi então relegado à sombra social, ao gueto, à margem. Esse marginal agora pelo menos poderia preferir a sua condição de trabalho temporário pra ganhar quase nada. E viver de soprar a fumaça de seu bongô* nas escadas do cais do porto nos muitos dias sem trabalho. Ao invés de arrumar um emprego que o prendesse pra sempre, pra sempre ganhar a mesma miséria de sempre... E muita gente então dizia: - É! Esses negros definitivamente não gostam de trabalhar! Pois agora estão livres e nem procuram trabalho! Nem se esforçam pra melhorar... Tão pensando o quê?

- Os brancos coroados eram nosso imperador D. Pedro II e sua filha a Princesa Isabel, declaradamente abolicionistas. Em um país racista como o nosso, o fato de uma branca ter sido a responsável pela assinatura que libertou os negros... Ah! Não sei não, mas é claro que isso deveria ser lembrado para denegrir a lei... Afinal qual outras leis foram feitas por negros nesse país? E por aí vão às críticas ao tal 13 de maio, umas legítimas, outras nem tanto, porém:

- Em 1995 comemorou-se 300 anos da resistência de Zumbi dos Palmares no nosso mais conhecido quilombo de outrora. Nesse ano adotaram o dia 20 de novembro como o "Dia da Consciência Negra". Lembro-me de algum falatório em torno da data, como sendo também uma alternativa ao tão criticado 13 de maio oficial.

O fato é que de uns anos para cá nossa historiografia tenta reabilitar a data de hoje como um momento importante na construção de nossa cidadania. Como um avanço sócio-político. Sim! Ainda que atrasado e complexado.

Pra terminar vamos comemorar esse 13, lembrando aqui um samba-enredo da melhor qualidade, que muito mais gente deveria conhecer... Tão malandro em seu eruditismo pernóstico quanto brilhante em sua resolução final. E eu tive o prazer de conhecer o tal sambinha ainda recém nascido. Lembro de meu compadre Wella num bar, todo empolgado, contando como ele mais o amigo Paulinho Carvalho fizeram o samba: - Num estalo! Primeiro veio o nome gigante - quem sabe uma lembrança das decorebas exigidas pelos profs de história do passado. E depois a segunda parte: totalmente pícara! E eu ali em pé, ouvindo no meio da zoeira de vozes e gravando de imediato, pra depois ir cantando pra casa, a melhor homenagem à princesa Dona Isabé que eu conheço. Sempre escuto a percussão... Pesada! E no cavaquinho... Nervoso!
Mas aqui por enquanto vai só a letra mesmo:



"Isabel Cristina"
(Wella-Paulinho Carvalho)(2001)

Isabel Cristina
Leopoldina
Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança
falar teu nome todo cansa!
E como cansa... E como cansa...
E eu cansei!

Cansei de ser escravo
Bateu as asas a liberdade no céu
E hoje, tenho direito à preguiça
Só vô chamar Vossa Alteza de Bebel!


De Bebel!




"Viva aquele que se presta a esta ocupação! Salve o compositor popular!"

Um comentário:

Be disse...

Só poderia ser assim,
o blog de um professor de história com ares de poeta e bagunceiro.

Viva Bebel,
viva a verdade expressa em simplicidade,
viva eu,viva você e a beleza
do livre expressar.

Adorei!!!!
Beijos,Fernando.