quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quem trabalha é que tem razão?

Discurso de Gegê no melhor estilo 'pai dos pobres'. Impressionante como essa entonação sacralizada soava verossímel na época. Repare nos sorrisos dos 'papagaios de piratas' quando Gegê inicia com seu famoso bordão: - Trabalhadores do Brasil!
Esse vídeo é de 1951. Vargas não era mais um ditador apesar de ter conservado a prática populista. O estádio estava cheio. A multidão em delírio como se fosse assistir a um show de prêmios. Vargas cercado por milhares de correligionários. Dali a três anos esse homem daria um tiro no coração...



O feriado de Primeiro de Maio foi instituído por Arthur Bernardes em 1925, mas foi Vargas quem inventou comemorar junto com o povo a partir de 1939. A data festiva era programada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e usada para promover a figura do ditador, que sempre anunciava novas leis trabalhistas. Logo após, um jogo de futebol fazia o povo se sentir muito bem tratado e protegido por seu presidente sorridente.

Hoje o PIB é bem maior, a distância entre ricos e pobres maior ainda e as estrelas não são mais os políticos. A política não é mais sacralizada. Esse ano, o 'Show de Primeiro de Maio' em São Paulo atraiu 40 mil pessoas para assistir 40 atrações artísticas... Algum político atreveu-se a dar a cara? Alguma liderança sindical propôs um pouco mais de justiça?

Atualmente nossas centrais sindicais estão muito parecidas com esses senhores das arquibancadas:



Mas o melhor mesmo é ser feriado prolongado e sobrar tempo até para posts.

Em 1941 Ataulfo Alves e Wilson Batista cooptavam - pressionados ou não - com o Estado Novo. E firmavam a figura do trabalhador ordeiro e responsável:

"Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar..."

(Bonde São Januário)


Quarenta anos depois Chico Buarque opera suas palavras para uma homenagem às greves do ABC de 1978:

"Linha, linha de montagem
A cor a coragem cora, coração
Abc, abecedário, oper operário
Pé no pé no chão
(...)
As cabeças levantadas
Máquinas paradas
Dia de pescar
Pois quem toca o trem pra frente
Também de repente
Pode o trem parar(...)”
(Linha de Montagem - Chico e Novelli)


Essa canção ia ser apresentada ao público por Chico Buarque, pela primeira vez, a 20 de abril e depois a 27 de abril de 1980, no Show de Vila Euclides - espetáculo musical cuja renda seria encaminhada ao Fundo de Greve dos Metalúrgicos. No entanto, o show - que iria ter lugar em São Bernardo, no Estádio de Vila Euclides, foi proibido, duas vezes, pela Polícia Federal e pelo DEOPS de São Paulo, apesar de terem sido vendidos mais de 100.000 mil ingressos. (Adélia Bezerra de Meneses em Desenho Mágico, HUCITEC, 1982)


Em tempos mais sombrios - Show do Riocentro em Primeiro de Maio de 1981 - uma bomba explodiu no estacionamento, enquanto Alceu Valença cantava seu "Coração Bobo". A direita manifestava-se contra a anunciada abertura da forma mais violenta. Mas só sairam feridos os que haviam tentado ferir.

E pra terminar quem conhece a rara e esquecida parceria entre Chico Buarque e Milton Nascimento? Do outro lado do compacto simples a famosa "Cio da Terra". Mas Primeiro de Maio é hoje!

"Primeiro de maio" (1977)

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é o seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã

Trinta anos depois da canção muitos operários dormem nas ruas. Não há mais greves. Nem homens de amanhã. Só a arte nos redime.

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Hoje os sindicatos estão cheios de pelegos, que se vendem em troca de dinheiro e campanha política para se elegerem deputados. E isso agrada aos governantes que aparentemente tem um pais "tranquilo" e sem greve.