Robinho foi essa semana a encarnação dessa frase de Chico Buarque. Em uma partida com Maracanã lotado e 5 gols marcados, o lance mais visto e comentado foi justamente um drible!
Foi como se a torcida dissesse:
- Gol a gente vê toda hora!... Mas, drible como aquele...
Jogada inédita que já nasceu lembrando música! Inicialmente o Robinho chamou a jogada de "Um pra lá, dois pra cá!" muito bom! Pois foi o jogador adversário (um) pra lá e a bola e o dono da bola (dois) pra cá! Na Globo o Galvão Bueno lembrou-se no ato de um grande sucesso de João Bosco e Aldir Blanc na voz de Elis Regina, "Dois pra lá, dois pra cá" (1975). Ele citou até o nome dos compositores! É pra ver como essa canção foi marcante nos anos 70. E o Robinho pedalando em frente àquele João bem que poderia ter começado a cantar como a Elis:
- "Sentindo frio em minha alma... te convidei pra dançar..." e o marcador dançou...
Mas não foi só essa música que dançou na memória. Aliás, a mesma "luz repentina inexplicável" foi recebida por Chico quando criou uma linha de ataque imaginária e mitológica na canção "O Futebol" (1989) - que também traz uma expressão evocada na noite da consagração do drible do Robinho na linha do Equador: "Parafusar algum João"...
"O Futebol" (1989) - Chico Buarque Para estufar esse filó Como eu sonhei Só Se eu fosse o Rei Para tirar efeito igual Ao jogador Qual Compositor Para aplicar uma firula exata Que pintor Para emplacar em que pinacoteca, nega Pintura mais fundamental Que um chute a gol Com precisão De flecha e folha seca Parafusar algum joão Na lateral Não Quando é fatal Para avisar a finta enfim Quando não é Sim No contrapé Para avançar na vaga geometria O corredor Na paralela do impossível, minha nega No sentimento diagonal Do homem-gol Rasgando o chão E costurando a linha Parábola do homem comum Roçando o céu Um Senhor chapéu Para delírio das gerais No coliseu Mas Que rei sou eu Para anular a natural catimba Do cantor Paralisando esta canção capenga, nega Para captar o visual De um chute a gol E a emoção Da idéia quando ginga (Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para Didi para Pagão para Pelé e Canhoteiro) |
A expressão: - “Parafusar João”, nasceu das jogadas mitológicas do anjo das pernas tortas, Mané Garrincha, que com seus garranchos "parafusava" qualquer João que o marcasse. O marcador de Mané era sempre um “João” qualquer que ficava lá, parafusado no campo, sem qualquer reação, enquanto o anjo recebia a “luz repentina inexplicável” e passava voando com a bola levada por suas pernas tortas...
Em entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, de onde a epígrafe desse post foi extraída, Chico constata que a música e o futebol permitem atos de criação instantâneos, que fascinam e encantam.
A ídéia do criador ginga quando cria...
E a nossa fica lá, parafusada, gingando no lance do criador...
recebendo aquela luz repentina e inexplicável...
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