sexta-feira, 19 de outubro de 2007

"Vai pra lá que eu vou pra cá"... um drible que valeu por cinco gols!

"É como se o corpo recebesse uma luz repentina inexplicável..."

Robinho foi essa semana a encarnação dessa frase de Chico Buarque. Em uma partida com Maracanã lotado e 5 gols marcados, o lance mais visto e comentado foi justamente um drible!
Foi como se a torcida dissesse:
- Gol a gente vê toda hora!... Mas, drible como aquele...

Jogada inédita que já nasceu lembrando música! Inicialmente o Robinho chamou a jogada de "Um pra lá, dois pra cá!" muito bom! Pois foi o jogador adversário (um) pra lá e a bola e o dono da bola (dois) pra cá! Na Globo o Galvão Bueno lembrou-se no ato de um grande sucesso de João Bosco e Aldir Blanc na voz de Elis Regina, "Dois pra lá, dois pra cá" (1975). Ele citou até o nome dos compositores! É pra ver como essa canção foi marcante nos anos 70. E o Robinho pedalando em frente àquele João bem que poderia ter começado a cantar como a Elis:
- "Sentindo frio em minha alma... te convidei pra dançar..." e o marcador dançou...

Mas não foi só essa música que dançou na memória. Aliás, a mesma "luz repentina inexplicável" foi recebida por Chico quando criou uma linha de ataque imaginária e mitológica na canção "O Futebol" (1989) - que também traz uma expressão evocada na noite da consagração do drible do Robinho na linha do Equador: "Parafusar algum João"...

"O Futebol" (1989) - Chico Buarque

Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané
Mané para Didi para Mané para Didi
para Pagão para Pelé e Canhoteiro)


A expressão: - “Parafusar João”, nasceu das jogadas mitológicas do anjo das pernas tortas, Mané Garrincha, que com seus garranchos "parafusava" qualquer João que o marcasse. O marcador de Mané era sempre um “João” qualquer que ficava lá, parafusado no campo, sem qualquer reação, enquanto o anjo recebia a “luz repentina inexplicável” e passava voando com a bola levada por suas pernas tortas...

Em entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, de onde a epígrafe desse post foi extraída, Chico constata que a música e o futebol permitem atos de criação instantâneos, que fascinam e encantam.
A ídéia do criador ginga quando cria...
E a nossa fica lá, parafusada, gingando no lance do criador...
recebendo aquela luz repentina e inexplicável...

Nenhum comentário: